GENERAL JAIR DANTAS RIBEIRO
NO
MINISTÉRIO DA GUERRA
Colocando-se
sempre ao lado da legalidade, Dantas Ribeiro exerceu o cargo de ministro da
Guerra em período especialmente crítico. Por um lado agravava-se a crise
econômica, crescendo os índices inflacionários; por outro, as oposições contra
o governo Goulart tornavam-se cada vez mais manifestas, principalmente por
parte de oficiais graduados do Exército, que há muito criticavam seu governo.
As críticas faziam-se sentir também pelo movimento sindical e pela esquerda,
que pressionavam Goulart com vistas ao atendimento de suas reivindicações.
Ao
se iniciar o mês de setembro, a situação do país tendia ao agravamento. No dia
12 de setembro, centenas de sargentos, fuzileiros navais e soldados da
Aeronáutica e da Marinha se sublevaram, ocupando durante a madrugada
importantes centros administrativos de Brasília. O motivo alegado da revolta
fora a recusa do Supremo Tribunal Federal (STF) em reconhecer a elegibilidade
dos sargentos para os órgãos do Poder Legislativo, mantendo em vigor o
princípio da Constituição de 1946. Como o movimento carecesse de organização,
foi logo controlado. No entanto, a rebelião teve implicações de longo alcance.
A posição de neutralidade de Goulart frente aos rebeldes criou, em primeiro
lugar, suspeitas por parte dos parlamentares conservadores que temiam ser
intenção de Goulart dar um golpe militar. Em segundo lugar, aumentaram as
crescentes suspeitas existentes no seio da oficialidade, fortalecendo aqueles
setores militares que não haviam concordado com a posse de Goulart e que, desde
então, conspiravam contra seu governo, alegando seu compromisso com os
comunistas.
No
dia seguinte ao motim, o general Humberto Castelo Branco empossou-se na chefia
do EME, condenando os “oportunistas” que, segundo ele, pretendiam substituir as
forças armadas por “milícias populares de ideologias ambíguas”. A partir daí, a
conspiração contra o governo Goulart teve sua articulação acelerada. O
presidente, por sua vez, acreditava que, com o apoio popular, neutralizaria qualquer
tentativa de golpe de Estado contra seu governo.
Ainda
em setembro, o comandante do II Exército, general Peri Bevilacqua, divulgou uma
nota nos quartéis condenando a ação dos sargentos em Brasília, a atuação do CGT
e a infiltração política nos quartéis. Em vista da nota, o ministro da Guerra
advertiu-o sobre o inconveniente de tal comportamento, estando até mesmo
decidido a exonerá-lo do comando por haver Bevilacqua ferido o princípio
segundo o qual nenhum militar deveria fazer pronunciamento de natureza
política, cabendo exclusivamente ao ministro da Guerra transmitir opiniões
desse tipo.
No
mesmo dia em que a nota foi divulgada, a polícia do Exército invadiu um prédio
no Rio de Janeiro onde funcionava a sede de um grupo denominado Ação de Vigilantes
do Brasil, dirigido por Paulo de Sales Galvão, elemento ligado a Carlos
Lacerda, apreendendo aí várias armas e munições. O ministro da Guerra mandou
instaurar um inquérito policial-militar, pois supunha que essas armas haviam
sido contrabandeadas da Bolívia ou do Paraguai, encarregando o general Idálio
Sardenberg de presidi-lo. No entanto, como havia indícios de que o caso
envolvia generais da reserva, o resultado das investigações foi abafado.
Em
outubro, a eclosão de uma greve de bancários e a divulgação de uma entrevista
concedida pelo governador Lacerda a um jornalista norte-americano, atacando
violentamente o governo brasileiro e o presidente Goulart pessoalmente,
provocaram nova crise. Devido à tensão causada por esse pronunciamento e considerando
a entrevista injuriosa às forças armadas e ao país, Dantas Ribeiro, juntamente
com os ministros da Marinha, Sílvio Mota, e da Aeronáutica, Anísio Botelho,
enviaram ao presidente da República um pedido de decretação do estado de sítio,
para afastar Lacerda do governo e deter a radicalização crescente das posições
políticas. Nessa ocasião, o ministro da Guerra afastou o tenente-coronel
Francisco Boaventura Cavalcanti Júnior do comando de uma unidade aeroterrestre.
Segundo Carlos Castelo Branco, a medida se deveu à recusa daquele oficial em
participar de uma operação-atentado contra Lacerda.
Com
o apoio inicial de Leonel Brizola e da bancada do Partido Trabalhista
Brasileiro (PTB) na Câmara dos Deputados, Goulart enviou ao Congresso, no dia 4
de outubro, mensagem solicitando o estado de sítio por 30 dias. Ficou
demonstrado, no entanto, que o exame do projeto governamental de estado de
sítio corria sério risco de ser rejeitado por entender a Câmara, em sua
maioria, representar o mesmo audaciosa tentativa de implantar dispositivo
ditatorial irreversível. A reação do Congresso e as pressões de esquerda que se
fizeram sentir junto ao presidente Goulart determinaram modificações no
comportamento do governo em relação à matéria. No dia 7 de outubro, Goulart retirou
a proposta que enviara ao Congresso. Inicialmente, os ministros militares
reagiram contra a atitude do presidente, chegando a pôr suas pastas à
disposição, mas acabaram por aceitar o recuo. A tensão provocada por esses
acontecimentos determinou uma nova crise político-militar. Muitos oficiais
moderados do Exército, que até então se haviam negado a engrossar a rede de
conspirações civis-militares visando à sua derrubada, passaram a aderir a seus
companheiros radicais.
Empenhado
em reconquistar as forças populares representadas pelos sindicatos, ligas
camponesas, entidades estudantis e partidos de esquerda, como o PTB e o Partido
Comunista Brasileiro (PCB), que no momento eram os únicos segmentos com os
quais o governo podia contar, Goulart começou a se voltar mais para a esquerda.
Enquanto a União Democrática Nacional (UDN), parte do PSD e outros partidos
menores reclamavam o impeachment de Goulart, várias entidades de direita
tomavam posição contra seu governo.
No
comício de 13 de março de 1964, realizado diante do Ministério da Guerra, no
qual se tornou clara a orientação do governo para a realização das reformas de
base, Dantas Ribeiro esteve ao lado de Goulart, Brizola e Miguel Arrais,
governador de Pernambuco. Ao voltar ao ministério, Dantas Ribeiro sentiu-se sem
autoridade perante os que eram contrários à situação. Tomou então conhecimento
da conspiração dos comandantes das principais unidades do Exército, não tendo
forças para exonerá-los.
Desde
então, a conspiração militar tomou vulto. O comício veio a repercutir
decisivamente nos meios conservadores tanto civis como militares, que diziam
temer um “iminente perigo comunista”. Na Escola Superior de Guerra (ESG), na
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) e no EME faziam-se várias
críticas à diretriz governamental.
No
dia 20 de março de 1964, Castelo Branco, chefe do EME, expediu uma circular
reservada alertando a oficialidade para as ameaças do comunismo. Nesse mesmo
dia, Dantas Ribeiro hospitalizou-se a fim de se submeter a uma intervenção
cirúrgica. Embora afastado de suas funções, o ministro da Guerra manteve-se ao
lado da legalidade afirmando que a ordem seria mantida a qualquer preço.
Em
virtude do agravamento da situação político-militar, Dantas Ribeiro reassumiu a
pasta da Guerra promovendo alterações nos comandos militares. Entre outras
mudanças, o general Benjamim Galhardo substituiria o general Castelo Branco na
chefia do EME. No dia 28, a eclosão de uma revolta de marinheiros concentrados
no Sindicato dos Metalúrgicos, no Rio de Janeiro, não suscitou da parte de
Goulart as punições previstas pela disciplina militar. Esse episódio tornou
virtualmente insustentável a situação do governo. Ainda em março, Dantas
Ribeiro foi novamente hospitalizado. Em virtude de seu afastamento, o general
Armando de Morais Âncora, comandante do I Exército, assumiu inteiramente o
ministério.
No
dia 1º de abril, Dantas Ribeiro, ouvindo pelo rádio em seu quarto do hospital a
mobilização sindical e estudantil em resistência ao movimento político-militar
deflagrado no dia anterior, comunicou-se com Goulart e disse estar pronto para
garanti-lo na presidência desde que o CGT fosse extinto. Goulart repeliu a
proposta. A partir daí, Dantas Ribeiro comunicou-lhe que não mais se
considerava seu ministro da Guerra e que, portanto, não o apoiaria.
Em
virtude do movimento político-militar de 31 de março de 1964, Dantas Ribeiro
teve de deixar o ministério, que foi ocupado na ocasião pelo general Artur da
Costa e Silva. Teve seus direitos políticos cassados pelo Ato Institucional nº
1 (AI-1) em junho de 1964. Nessa mesma data, por decreto do entro presidente
Humberto Castelo Branco, foi transferido para a reserva e, mais tarde,
reformado no posto de general-de-exército. Foi excluído da Ordem do Mérito
Naval, no grau de grande oficial, do Mérito Militar, no grau de grã-cruz, e do
Mérito Aeronáutico, no grau de grande oficial.
Faleceu
no Rio de Janeiro no dia 12 de janeiro de 1969
Era
casado com ZULMIRA LIMA BARRETO.
Escreveu,
juntamente com João Barbosa Leite, Manual de instrução física (1926)
FONTES: ARQ. DEP. PESQ. JORNAL DO BRASIL; ARQ. MIN. EXÉRC;
BANDEIRA, L. Governo; CASTELO BRANCO, C. Introdução; CONSULT. MAGALHÃES, B.;
CORRESP. SECRET. GER. EXÉRC.; Encic. Mirador; FICHÁRIO PESQ. M. AMORIM; Grande
encic. Delta; Jornal do Comércio, Rio (14/1/1969); JUREMA, A. Juscelino;
Ministros da Justiça; POERNER, A. Poder; SILVA, H. 1964; SKIDMORE, T. Brasil;
Visão (10/12/1973); VÍTOR, M. Cinco
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